segunda-feira, 18 de outubro de 2010

VÍRUS

Era um ser deslumbrante, radiante, perfeito.
Um corpo harmônico e harmonioso.
Lindo. Narciso.
Células em gelo. Células escaldantes.
Um coração líquido. Salgado.
Pulmões ramificados, enraizados. Florestais.
Sua corrente sanguinea transportava a vida para todos os cantos. Cristalina. Hidráulica.
E sua respiração? Hora ofegante, vendaval. Hora sopro divino, brisa.
Rins de areia. Rocha filtrante.
Sem pernas, sem braços. Sem membros.
Seus movimentos eram rotativos. Elípticos.
Mas não tinha aparelho excretor.
Também, não produzia impurezas. Não deixava restos.
E se alimentava apenas da luz do Sol.
Pra que intestinos?
Mas um dia sua natureza cometeu um erro.
 Inocência e pureza o levaram ao fim.
Conhecedor apenas do belo e saudável ignorou um invasor.
Pensou ser um indivíduo mitocondrial, como tantos outros.
Benéficos. Do bem!
Mas era um vírus.
Multiplicar e destruir eram sua essência.
Letal.
E uma existência de milhões pereceu.
Em poucos anos.
O hospedeiro morreu.
Seu nome?
Planeta Terra.
Seu algoz?
Homo Sapiens.
Quem mais poderia ser?

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