segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SONHO



Sonhei contigo esta noite

Assim, conforme pediste

Sonhei com um anjo também

Tal qual meu desejo

Nós dois. Só nós dois

Deitados na relva

No alto da colina, a contemplar

O céu, de límpido anil, sorria

A esplendorosa cordilheira, a jovem primavera

Das Geraes gemas purpuravam, jóias pululavam

Das Minas tormentavam barrocos cristais


Pulsar das brilhantes ilusões

E de errantes razões

A ametista, de olhos passados, ciúmes

O topázio, de insustentável leveza, paixão

Encanto, de fino lume, a ônix negra

De tua pele morena, o âmbar incandescente

Indecente, tentador, sufocante

Ao som de um lascivo véu de virgem

Em núpcias nuvens

E eu, mergulhado em teus lábios

Embrenhado em teus cachos

Catatônico ao teu perfume

Ao teu feitiço, boquiaberto

sábado, 27 de agosto de 2011

TOC


Não consigo livrar-me desse vício

Tampouco largar essa mania

Todo dia, cada hora, todo tempo

É um hábito que me faz feliz

Me faz sorrir. ah! se me faz

Sinto-me louco, insano, abestalhado

Tenho necessidade, dependência, precisão

A cada instante, sempre, trégua não há

Assim é o amor que me domina

A paixão que revigora e me apavora

Sentimento puro, sem medidas

Não quero que jamais me abandone esse transtorno

Quero eternamente a magia dessa obsessão

Você! Meu amor! Minha luz!

Que fez da minha vida um universo em compulsão

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

HIPERTERMIA


Abraça-me agora

Abrasa-me agora

Arrasa-me com teu fogo indecente

Transfere pra mim todo o calor de tua paixão

Fere profundamente meu coração

Com a flecha desse teu amor tão intenso

Deixa fluir por minhas veias o veneno de tua mágica poção

Pra que eu embarque nessa nau de sonhos que são teus lábios

E aporte em teu colo generoso

E repouse em teu peito repleto de carinho

Pra que eu descanse em paz por toda eternidade

Mesmo que cativo de teus olhos

Assim

Afogado em teus beijos



Dedicado à minha linda Isabella

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

FRAMBOESA


É esse o gosto que sinto
Sinto aos teus lábios beijar
Não o sabor do teu batom
Nem o perfume do teu hálito doce
O que sinto vem da textura
De tuas tão suculentas carnes
Vem da loucura por prová-los
Dos devaneios que me causam ao sorvê-los
Dos arrepios que me levam a delirantes desejos
Calafrios de sonhos devassos
Calores de minhas pervertidas intenções
Sensações que lembram o prazer
A ternura na tenrura do fruto bruxo
De sua nobreza, meritória divina
Sua rara matiz rubro-magenta
E as delícias que me causam seus etílicos licores
Em enólea embriaguez
Tocar teus lábios é purificar minha boca herege e profana
Beijar teus lábios é elevar minh'alma aos céus
Sugar teus lábios é afogar-me em feitiços
Como tais sonhados ao saborear uma framboesa


PASSANDO POR CÁ


Sexo bruto, sujo, sem amor
Macho, fêmea, pseudoamantes
Prole enfim
Sombria conceição
Apenas hormônios à flor
Aleitado pela mama desalmada
Desmamado, cresci criança
Chorando
Sorrindo
Vivi precoces paixões
E emoções mil
Molecagens e dogmas
Traquinagens ou doces
Pesadelos e sonhos
Impetrados em meu ser escravo
Questionados em meu livre pensar
O tempo, rumo à hipocrisia dominante
Então o trabalho
Por imundo papel
Senhor do mundo
Velhos medos
Novas culpas
E o temor ao mestre das bolhas de sabão
Casa
Carro
Shopping
TV de plasma
Pasma alienação
Poder!
Decepção e desesperança
Vergonha de minha humanidade divina
E minha semelhança fantasma
Visões em meus grisalhos e rugas
Hipertensões, amálgamas amargos
Certeza que ao mundo vim só
Passando por cá, só, estou
E só partirei
Sem nada que possa levar
Nem alguém a me acompanhar 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

BEIJOS DA PESTILÊNCIA


Tem certos dias em que olho a janela
Olho e vejo o reflexo de minha depressão
No cristal embaçado por meu hálito triste
Onde lágrimas cintilam por não ver nada além
Ao fim da estrada ninguém, apenas folhas secas
E flores mortas, dizimadas pela saudade
Pela lembrança de ofertar-te um botão
De perfume sutil, como é teu perfume
Recordo teus lábios em largos sorrisos
Sorrisos em forma de luz
Da tua face morena, enrubescida
Teu dentes brilhantes, gritantes, escancarados de paixão
Meu peito aperta e o sangue gela
Sinto frio lembrando teu calor
Tenho náuseas, vertigens
Sinto falta do teu amor
Dos teus beijos ardentes
E na cadeira balanço
No terraço embalo a melancolia
A miséria que vivo longe de ti
Amuado em desespero implode meu coração
Enclausurado pelos beijos desta pestilência maldita
Que é estar só, sem tu em meus braços
Tendo como concubina a solidão

PRA NUNCA ESQUECER



Ah! Me entorpece a magia dessa cantata
De Schubert, ártica sonata onde flutua meu ser
E às montanhas de gelo me leva
Como anestésico, paralisa minha razão
Me pulsa ao tique do virtuoso mestre
Lança-me aos icebergs do toque de caudas
Ao movimento do gélido regente
A planar em meus ouvidos descrentes
No frio deste inverno, só nós dois
Em agnósticos arrepios
Profanos calafrios, delírios mundanos
Na taça de tinto tragada
Largada sobre o tapete, entornada
Ao calor do doce cacau, arauto de Afrodite
Ufano mensageiro da diva Nefertiti
No sabor do fondue debochado de brie
Servindo-nos um ao outro
Na boca, entre um beijo e outro
E, sob as mantas da luxúria, aquecidos
Tanto fogo, tanta energia
Quanta paixão
Arfantes, corpos suados, entrelaçados
Extenuados ao gran finale
Já quase adormecidos
O dia quase amanhecido

domingo, 14 de agosto de 2011

DEVANEIOS


As montanhas, o vento azul, meus sonhos, teus olhos

E eu, prisioneiro

Longe de ti

Prisioneiro em teus olhos

Sequer uma lágrima de luz

Pra que eu flua e rompa os grilhões da saudade

E caia em teu colo

E tu me tragas em sorrisos aos teus braços

Me enlouqueças em teus lábios de rubros desejos

Ao estrondo da felicidade eterna

Bradando pela imensidão das branas

Das tantas dimensões do universo

Num radiante eco de sorrisos

ETERNIDADE


Morte

Certeza da eternidade

Eterna no nada

No vazio

Na escuridão do pó

O rigor

A putrefata dissolvência

Meus cadavéricos licores

Em cinzas de gris calcário

E anil prussiano

Se fervo

No mármore de meu éden pagão

Até que derretam

Os grilhões de minha pífia existência

E me livrem

Dessa minha asquerosa humanidade

sábado, 6 de agosto de 2011

INCOMUM


Pensas que medíocre é nada? É médio
Superior não é o máximo
Ínfimo, apenas pequeno, existe
Filosofia barata
Pseudointelecto
Rock
Poesia
Sexo
amor
Loucura
Insanidade
Tantas coisas em comum
O chato é comum?
Ser comum é chato?
Quem disse tal tolice?
Então, porque diferenças
Opostos se atraem?
Somos
Adão e Eva
Gênero
Pra que mais?
Divergirmos?
Combater-nos?
Odiarmo-nos?
Amo o que mais amas, tu!
Recíproca verdade. Eu!
Incomum é nosso amor
Lindo na infinitude
Perfeito em eternidade
Incomum!
Raro entre os mortais

CERTAMENTE


Talvez um dia descanse minh'alma
Talvez este mar de prantos jamais
Talvez estrelas lumiem meus sonhos
Talvez, luídos, vanesçam meus pesadelos
Talvez apagados no tempo urgente
Talvez esse tempo me espere, não corra
Talvez meus ígneos conflitos ignore
Talvez meus valores, a priori, aprimore
Talvez meus demônios, com luz, exorcize
Talvez, finalmente, os anjos me guardem
Talvez meu sorriso acenda, a tristeza apague, a felicidade sorria
Talvez a distância volva-me o amor
Talvez assim a hipocrisia nos deixe viver
E, se porventura, liquide tantos talvez
Certamente ao pó retorne em paz

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

PIERCING




E esse teu sino que mudo badala
Embala meu coração
Abala minha razão
Agora esposo com anel de ouro
Mudo, mas irriquieto ao roçar
Que teus encantos aflora
Teus desejos externa
Em murmúrios, gemidos
Jorra teu alucinógeno licor
Em minha boca endoidecida
Por minha língua delinquente
Por tuas garras, sôfregas no cetim
Meus olhos doudos por teu convite
Em "V" de volúpia ou vigarice, sei lá...
Quiçá vitória
Sei que em teu oásis me embrenho
Agreste no entorno
Caudaloso nos lábios carmesin
Onde saro minha sede de amor
Donde sorvo teus sabores
E me embriago de paixão
Ao tilintar teu clitóris dourado
Com a cara lambuzada
Nossas almas desmaiadas
Eu e tu largados, gozados
Tu e eu brindando a magia de um piercing

terça-feira, 2 de agosto de 2011

CÁLIGO


Entre o sim e o não da infância
Indecisa decisão
Incisiva, rompendo a seda
Em seu claustro casulo faminta
Ávida por brisas, tênues correntes
Certa em romper seus elos natais
Da opaca penumbra à luz das flores
Desdém à maternidade ufana
Asco à paterna dita
Livre!
Finalmente livre
Alas morenas de cetim
Olhos, enormes, à espreita de mim
À espera do meu amor
Livre, largada em meus braços
Não mais mera crisálida
Enfim mulher
Planando magia na primavera

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

MENINA BONITA


Sentada alí, sorrindo, Larissa
Seus olhos, gotas cintilantes de mel
Torneados em sedutor grafite
Sua boca - Ah! Que boca!
Vertigens
Tagarela e envolvente
Hipnótica
A encantar-me em ecos lilases
De sonhos obscenos, pura magia
Eu, blindado por seu sorriso Carrara
Ela, linda como as musas de Drummond
"É um andar vestida de nudez,
inocência de irmã e copo d’água"

E sua face rosada, de covinhas sensuais
Convidando-me a viajar por seus lábios
Eu, de tantos amores escravo
De fácil paixão, boquiaberto
Imaginando, um dia, residir em seus braços
E louco, entorpecer-me em seus beijos
Afogar-me em seu veneno sagrado
E, mesmo amando tanto outra mulher
Jamais poderei olvidar tão doce beleza
Tatuada em minh'alma sempre estará
Preso àquela imagem estarei
"Ela, sentada alí, sorrindo, Larissa"

32 MINUTOS


32 minutos ao telefone.
Míseros 32 minutos.
Sabem o que é isso?
O tempo que fiquei com meu amor ao telefone.
Depois de dias e dias sem poder falar-lhe, finalmente, a angústia se foi.
A alegria em ouvir sua voz foi algo indescritível, mas nada comparável à felicidade externada por Isabella. Sua ansiedade era tal que eu mal conseguia entender suas palavras, ditas de forma desconexa e fugaz, sem tomar fôlego. Por vezes tive que pedir-lhe para que se expressasse pausadamente, entre respirações e ela, por vezes, não foi capaz de conter a saraivada de carinho a mim, como se fosse uma metralhadora. Foram muitos "ãs", "o quês". Muito engraçado. Eu ria muito.
Falamos de nosso sofrimento por culpa das distâncias que nos separam, de nosso amor exagerado, da felicidade por estarmos, a cada dia, mais próximos, mais unidos, mais apaixonados, mesmo bombardeados por contratempos, preconceito e intolerância. Falamos do cachorro estressado do vizinho, de amigos oportunistas e desrespeitosos. Falamos do absurdo estado de desejo que ficamos apenas por ouvirmos a voz um do outro.
Foram incontáveis juras de amor nesse curto espaço de tempo.
- Eu te amo!
- Eu te amo!
- Eu te amo!
Dissemos, um ao outro, alternadamente ou em uníssono. Muito bom. Muito legal. Mágico! Nada como matar as saudades. Nada como ter a certeza de sermos amados tão calorosamente. Mesmo que por telefone. Mesmo a quilômetros de distância. Afinal, foi essa a ideia de Grahamm Bell. Criar um aparelho que encurtasse as distâncias através do poder da palavra.
Enquanto bilhões de humanos suplicam aos céus para que um ser fictício amenize as dores ocasionadas por sentimentos angustiantes (entre eles, a saudade), eu resolvo meus conflitos digitando 8 algarismos apenas, num aparelho criado pela genealidade humana.

VOZES


Vanescem as cores de minha vida
Adiante, o tempo incansável caminha
A candura de minha inocência se foi
E minh'alma, em tônicos cinzas, dissipa
Até que a divina escuridão repouse em mim
Meus medos, os tantos de minha estrada
Aos poucos minaram minha tão sonhada revolução
Tornando-me solitário, torrente em lagrimas
Pleno em tristeza
Vozes falam-me agora
Profetas de minha loucura
Frutos de um porto sem cais, de amigos fantoches
Meus olhos, profundos no mar de minha razão
Perdidos no pântano de minha esquizofrenia
Donde talvez se aninhe o paraíso
O nirvana de minha humanidade mesquinha
Onde não haja beijos de trinta vinténs, quiçá
Minha pestilência incontida não posso negar
Tampouco o egoísmo arraigado em mim
Sanguessuga de meus sentimentos
Me resta redimir meus pecados
Viver este amor profano, meu último amor
E suspirar sem dor meu derradeiro lamento

TRISTEZA

A tristeza me invade agora
Lá fora a garoa gelada salpica o asfalto
E eu, aqui do alto de meu delírio, viajo por nuvens sombrias
Misérias de meu pensamento
Vivo a saudade, clausura demente
Carente de afagos do meu amor tão longe
E tão longe se vai minha alegria de viver
Meu desespero é tal que definho
É frio meu ninho, amarga é minha esperança
Chorar de saudade me cansa
O peso da idade notório se faz
O sopro da vida se esvai de forma fugaz
Falta-me o ar nos pulmões esfumaçados
Mais um cigarro fumado
Outro trago na gentil aguardente
Meu sonhos já todos rotos
Largados no esgoto, riem de mim
Estou que não me aguento, perto do fim
Ébrio em meu éden etílico
Louco à espera da morte
Que a sorte, em breve, me tire essa dor
E acabe de vez com essa míngua de amor