sexta-feira, 29 de julho de 2011

HOJE


Hoje!
Ah! Como hoje estou
Tão eterno como jamais estive
De emoções pleno, reticente em razões
Ciente do fluxo dos meus ódios, amores e ópios
Senhor de minhas ilusões
Ódios distantes, mas vivos
Ópios dopantes e remissivos
Ilusões sem nunca um crivo da realidade
Restam-me os amores
Cativos e eu nem aí
Nem aí com meus ais, pois, se foram
Quais amores?
Os melhores, maiores, os mais puros
Meus filhos, prole bendita, divindades de meu clã
Terra, a natura mãe, portadora de minha essência pagã
A luz, o ar, o sorriso são meus
Vitais e arraigados neste coração apaixonado
E minha amada, senhora de meus suspiros
Cada um deles
Portanto, o que me importa o ontem?
Apenas lembranças além consumidas
Ardidas no crematório de meu corpo defunto
Quiçá, junto aos vermes do ciclo
Sorvidas nos sulcos da carne putrefata
Servidas nos sucos de minha existência inexata
E, o que me importa o amanhã?
Cada passo alcançado é passado
Cada fruto colhido, taxado
E nem sempre a pena vale
O hoje é assim
Não foi nem nunca será
É!
Em breve evento
Apenas momento
Etéreo eterno
Instante constante
Finito infinito
Meu grito de liberdade está no que penso
E meu pensamento está no que sinto
Hoje o que sinto são meus amores
Filhos, a natura mãe, a vida
No apogeu da alegria
De cada dia
A paixão desmedida
Desenhada
Desencadeada
Desenfreada por minha querida Alexandria

quarta-feira, 27 de julho de 2011

VERSOS DISPERSOS


Tantas palavras escrevo
Em pleno clamor de minhas paixões
No aflorar de minhas emoções
Que vêm e que vão
Escorrem afoitas de minh'alma
Para o ralo de minha ciência
Cravo a caneta na flor de meus ais
Viagens sentimentais esparsas em minhas razões
Essa dor nunca que aporta
E sequer a alguém importa
Versos descritos em lâmina d'água
Diluídos ao movimento
Em turbilhão perdidos
Tantas palavras escrevo e tu que não lês
Como fumaça solutam no balançar das palmas
N'areia as escrevo
E o vento as arrasta, meu grito apaga
Grito de liberdade, meu livre pensar
Escrevo as sombras de minha morada
As luzes de minha vida pra ti
Pra ti, que nem queres saber
Nem imaginar como seriam os sonhos meus
Ouves meus versos e não os ama
Esse amor meu transcrevo em poesia
Versos que tu jamais lembrarás
No outrora fletidos
Dispersos no agora

segunda-feira, 25 de julho de 2011

BELA


Bela demais!
És mais bela que a lua
Que do sol rouba a claridão
E em divina candura as trevas reduz
És a própria luz!

És mais bela que a Aurora Boreal
Mais até que o arco-íris
Mais bela que um sorriso de criança
E seus sonhos povoados por fadas e anjos
Por unicórnios alados livres no azul da imensidão

És mais bela que um jardim repleto
De gerânios, hortências, begônias, azaléias
Samambaias, orquídeas e bromélias
Mais bela que a rosa tu és

Tua beleza é tão imensa
Que torna-me, dentre os homens, o mais feio
Por meus pensamentos impuros e mundanos
Querendo tocar-te, beijar-te, amar-te
E alucinar-me aos olhos fechar
E mesmo às escuras saber teu corpo sobre o meu

De tanta perfeição
És mais bela que a própria vida
Pois, se não tu'existência
A vida não teria beleza
A beleza, vida tampouco

quinta-feira, 21 de julho de 2011

PANTEÃO


O mundo, meu mundo esotérico
Louco, imerso em efemérides
Profuso em tolices, doidivanas vontades
Pândego da hílare tagarelice
Só resta uma reta, uma seta
Alma defecta, rumo ao cavo destino
Absorto em desatino absurdo
Dor e demência
Fado e temência
Indulgente abstinência
Obstinente castigo no cativo da dor
Abstração da una realidade
Fantasia macabra que não dói
Não depois do fim
Até lá, muitas águas hão de rolar
Aluvião da insanidade teísta
Egoísta há de ser cada cômpar alusivo
Da abusiva fé hermenista
Da hermeneuta alucinação
Exegeta razão do nada porvir
Ah! Como a pose ufanista segrega, degreda e cega
Fundada no medo e afundada na hipocrisia
No circunlóquio da imoral existência imortal
Arraigada no axioma humano

segunda-feira, 18 de julho de 2011

TRAGOS


Essa nódoa gris que é minha vida macilenta
Nojenta e lodosa é minh’alma
Sentado aqui sem ter o que fazer
À espera de morrer, fumando como louco
E rouco de tanto gritar em vão
Querendo teu perdão, mera ilusão
Melhor seria ter calado
Mas embriagado brinco com a sorte
A morte não me leva, mesmo que implore, pragueje e chore
Choro por nada ter além de lágrimas
Pálidas alusões de um futuro sombrio
Vazio em meu peito
Onde estão minhas paixões?
A música ao fundo, melancólica, me faz sofrer
À espera de morrer, fumando como louco, outro cigarro
No canto da sala eu escarro tentando expulsar a podridão que me afoga
A saudade é minha droga, nela me afundo, me escondo do mundo
Não quero ver ninguém que não seja minha amada
Queria tê-la junto ao mim, pertinho de meu corpo
Aninhar-me eu seu colo, sentir seus lábios junto aos meus
Ó meu Deus, onde estão meus sonhos?
Rompidos em cristais já não me refletem a ventura
E esta loucura que danou minha razão
Sangra meu coração partido
Agora estou caído, já meio desfalecido
À espera de morrer, fumando como louco, outro cigarro, mais um trago
O último que às náuseas me leva
Tento resistir, levantar a cabeça
- Meu amor, jamais esqueça, eu não queria assim partir
- Sem teu carinho é triste meu fim
O veneno corre por minhas veias, fugaz
 E não há paz sem te, os cabelos cacheados, afagar
Sem o macio do teu seio pra feliz minha luz se apagar

CANSEI!


De tantos ais que nem recordo, cansei
Cansei atrás de ti correr
Tuas juras, sempre em fatias, fatigam meus dias
Ao tempo nunca certeza procedem
Extenuam-me essas juras vazias
Cansei de ti, teus mimos, tuas manias
Teus beijos já não me acendem as veias
Nem ascendem minh’alma aos céus
Tua voz, as notas musicais de teus lábios
Nem mesmo entre teias um só acorde perdido
Nem mesmo um tépido suspiro teu em meus lençóis
Na alcova de penas em noites quentes de lua
Deleito vadio em meu travesseiro
Insone, pensando em ti, enlevo garrado
E tu’imagem, apenas crida em meus sonhos
Nunca que o sopro divino à luz concede
Sequer tua carne concebe a minha razão
Tua dissimulada inocência me estafa os miolos
Mentiras e fugas me enredam tristeza
Reticente, de passos in retro
Tantos porquês só me afastam de ti
E tu, cativa em meu cristalino
Te escusas entre lágrimas de adeus
Inda que de molesta paixão enlouqueça
Deveras ferina saudade eu morra
Cansei!

sábado, 16 de julho de 2011

SUAVES NUVENS MURMURANTES


Agora, do outro lado da luz, sereno caminho
Passos em plumas, suaves nuvens murmurantes
Sequer um tormento me enfada
Minh’árdua jornada se foi ao sucesso
Regresso sei que não há, apenas descanso eterno
No inverno da terra meu corpo finado dilui
Saudades dos que ficaram chorosos por minha partida
A vida brindou-me com um tênue fado
E hoje, lembrado por tantos sorrisos, repouso feliz
Minha força motriz se esvaiu
E sinto a ataraxia dos anjos
Sem sufocação ou asfixia,
Em paz clamorosa,  glamourosa paz
Aqui, na mármore esquife onde jaz minha leniente criatura
Do macro conceito à micro fração
Sem ouros nem louros, juízo ou razão
Apenas adaga de luz rasgando o universo
Em ondas disperso, na magnitude do excelso infinito
No celso poder, buscando as estelas do firmamento
No augusto deleite, ouvindo das estrelas a quietude

LEILÃO


Puta que pariu! Que merda do caralho! Ontem à noite, num jornal televisivo eu vi a notícia de um idiota que comprou o mais antigo livro de regras do futebol pela bagatela de 2,2 milhões de reais. Como pode uma porra dessas? Pra que serve uma porra como essa? Deviam pegar a merda do livro e enfiar no cu de quem comprou, aliás, deviam enfiar no cu de quem compra em leilão qualquer objeto inútil, tais como: livros de regra de futebol, vestido usado por Marilyn Monroe, suéter do Elvis Presley, cigarro de maconha do Bob Marley, pedaço da Skylab, capacete do Ayrton Senna ou qualquer obra de arte. Saibam que amo as artes, mas a obra de arte é patrimônio da humanidade e não deveria ser comercializada e depois enfurnada na sala bolorenta de algum milionário acéfalo, ou mesmo, no túmulo de algum imbecil para apodrecer junto à sua carcaça fétida.
Sempre me chega aos ouvidos notícias desse baixo quilate. Milhões e milhões de patacas sendo gastas com inutilidades e milhões e milhões de seres humanos morrendo de fome com a única esperança de poder provar ao menos um grão de arroz antes de seus famélicos epitáfios.
Tenho a intenção de fazer o seguinte: Rumar até a periferia de qualquer cidade do Brasil, arrebatar uma família de muitos filhos e leiloar o mais jovem pelo lance inicial de um milhão de reais. Com o dinheiro obtido no lance ganhador sustentar o restante da família com casa, comida, educação, saúde... por, no mínimo, 154 anos (baseado no salário mínimo). Tenho certeza que não faltariam famílias nesse país querendo participar deste meu empreendimento.
O que acham da idéia? Rifar, leiloar ou comercializar seres humanos é crime? E o que nossos governantes estão fazendo e sempre fizeram com o nosso povo senão o leilão de suas pobres almas?
O governo brasileiro investe cerca de três mil e seiscentos reais por aluno da rede pública por ano, ou seja, R$3600,00 x ano x aluno e tenho certeza que 99% desses alunos não conseguem fazer a leitura desta equação. Então vejamos: dois milhões e duzentos mil reais seriam suficientes pra manter um aluno na escola por, simplesmente, 6111 anos ou manter 6111 alunos na escola por um ano ou financiar 509 alunos por toda a vida escolar média ou 382 brasileiros até a graduação universitária.
A merda da TV plim plim deveria noticiar o estado lamentável no qual se encontram as famílias mais pobres deste imenso país, não com pitadas esporádicas como é de praxe, mas sim, diuturnamente, com riqueza de detalhes. Mostrar incessantemente o que os nossos 513 abestados tiriricas fazem com o nosso dinheiro. Divulgar a pobreza como ela realmente é, todos os dias, de meia em meia hora, pra ver se entra na cabeça desse povo covarde e preguiçoso. Povo alienado que vive à espera do retorno do salvador, povo sem coragem que faz vistas grossas às repetidas atuações improdutivas dos eleitos por voto direto, povo inútil que compra televisões e mais televisões e passa uma vida toda sem ler um único livro, nem mesmo o tal livro sagrado que é repleto de mentiras, sandices e imoralidades.
Nosso país é regido por 5 poderes, os três manjados e inúteis (judiciário, legislativo e executivo) que nada fazem pra levar nosso país à grandeza que ele merece e os outros dois mais soberanos, os dois que o tempo todo trabalham na surdina. Sim, trabalham, mas seus esforços são empregados única e exclusivamente pra piorar a coisa. Falo da televisão e da religião. Essas sim detêm o verdadeiro poder, pois nelas o povo acredita cegamente e, alicerçado em ambas, vive num mundo de ilusões. Vocês não acreditam? É só comparar a situação de nosso país com países como Suécia, Dinamarca, Suíça, Noruega, Finlândia, Coreia e Japão, países esses, onde os governos investem na cultura, na educação, na família, no povo. Países onde religião quase não existe e a mídia televisiva está em segundo plano.
A religião leiloa vossas vidas a um todo poderoso non sense, um ser imaginário incapaz de interferir em qualquer mazela humana. Paga-se com a própria vida inútil, mas temente, pela aquisição de uma existência no paraíso, mas o que seria isso, o paraíso? Ninguém tem sequer idéia do que seria uma vida após esta vida, mas a grande maioria prefere acreditar que ela exista. A religião dominante nesse país, o cristianismo, prega que vós podeis fazer todo tipo de “filhadaputagem” que estiver ao alcance, desde... Desde que vós aceiteis a existência do improvável ser chiliquento que não gosta de ser contrariado, desde que o temais e supliqueis misericórdia, senão...
A mídia, o poder paralelo à religião, divulga, informa e publica apenas o que é certamente conclusivo para a alienação e ignorância da massa. O brasileiro covarde, ignorante, preguiçoso, sabedor de sua infortuna existência, se apega a valores que nada acrescentam a seu íntimo.
É só comparar os programas e seus horários. Programas relativamente interessantes e educativos, tais como: Telecurso, Globo Ciência, Globo Ecologia, Globo Universidade, Pequenas Empresas – Grandes Negócios, Globo Rural e uns outros poucos têm horários estúpidos, na madrugada ou nas tenras horas matinais de domingo. Já nos horários ditos nobres, mas que são podres e pobres, temos a transmissão apenas do lixo onde o brasileiro adora chafurdar. Crimes, futebol, novelas, programas de auditório são verdadeiramente o ópio do povo imbecilóide que forma essa nação. Na verdade a TV plim plim não tem culpa, pois sobrevive da venda do seu produto. O culpado é o próprio povo que adora saborear as enganações impostas pra fugir de sua realidade nefasta. Saibam que considero a TV plim plim a menos fedorenta e sem conteúdo, as outras são infinitamente piores
Dia desses, num programa de tarde de domingo, vi o ex-gordo imbecil homenageando o ex-CUrintiano drogadão e colocando-o como exemplo de dignidade a ser seguida. Pode? Vi um outro gordo imbecil entrevistando uma vaca dita da high-society carioca latindo a la funk um monte de vocábulos desconexos e imorais e, ao encerramento da hilária jornada interrogativa, a platéia dita culta, por ser fan do gordo bobo e suas hienas, bradou um sonoro aaaaaahhhh. Puta que pariu! Deveriam ter gritado Aaaargh logo no anúncio da atração, isso sim. Temos também na TV o homófobo mas enrustido Malacheia, Pedir Maiscedo e o Paga Que Eu Te Furto, José Imbecil Dapena, Rouba Rouba Soares e seu cartão de crédito celestial, Gugu, Eliana, Raul Gil, Silvio Santos, Valdemiro, Hebe, Luciana Gimenes, Video Show, Trapalhões, Zorra Total, Milton Neves, Neto, Chico Lang, novelas, novelas e mais novelas, todas sem o mínimo de criatividade e fundo poético, somente clichês, clichês e mais clichês. Tudo o que o povo adora saborear. E o 22º Prêmio da Música Brasileira, homenageando Noel Rosa, passou na madruga. Santa ignorância tupiniquim!
Aff!! Chega de falar mal da imbecilidade humana. Cansei.
É isso aí Zé Povim, leiloa tua alma, viva uma vida na merda ilusória e morra acreditando que mereces um lugar ao lado do omininada sanguinário, imoral e pervertido. Morra acreditando que o salvador clonado virá arrebatar-te antes da anunciada intervenção vingativa e torturante do senhor teu deus.
E foda-se!!!

YUMI


Na primeira vez que a vi, eu estava restaurando um portão de madeira na residência de uma cliente, no Jardim da Saúde, São Paulo – capital. Num sol de rachar, imerso em pó de madeira e lambuzado de verniz quando ela passou com seu cãozinho e disse bom dia. Até aí, coisa normal, visto que naquele bairro as pessoas são extremamente educadas e têm o bom hábito de cumprimentar, mesmo os desconhecidos, cousa já perdida por nosso povo mal educado e avesso à lenda de ser hospitaleiro. Só que deste cumprimento duas coisas ficaram marcadas. Seu perfume, que deixou um rastro sedutor e acendeu de uma só vez, todos os meus neurotransmissores, deixou meus hormônios à vista, de forma que era possível até vê-los a olho nu, acreditem. O outro fato marcante foi que ela olhou pra trás uma, duas, três vezes e outras mais, até desaparecer de minha visão, ao dobrar a esquina. E eu ali parado, atônito, bestificado, vendo sua beleza esguia se ir ao longe.
Passados alguns dias, eu estava à noite, numa conveniência, comprando cigarros e recarregando o celular (pra poder falar com minha ex-mulher. Pff!) quando ela apareceu como num passe de mágica, ao meu lado. Pediu uma coca-cola, uma carteira de cigarros aromatizados com cravo e uma caixinha de balas, aquela tal de Tic-Tac. Paguei o cigarro e a recarga e saí meio sem graça, mas decidi esperar por ela. Quando ela saiu, meio trêmulo, indaguei se poderia falar-lhe. Adivinhem o que ela me respondeu? Pasmem! Ela disse: - Demorô! Aí que fiquei mais sem graça ainda. Então ela continuou: - Mas antes o senhor vai ter que trocar o pneu de meu carro, “tio”. Eu repliquei: - Demorô! E, lá fui eu lambuzar as mãos de fuligem. Quando terminei, ela ordenou que entrasse no seu carro, pois, me daria uma carona em retribuição. Recusei, alegando morar à apenas uma quadra dali, o que ela não aceitou de forma alguma, dizendo: - O senhor ainda não percebeu quem manda aqui? Além do mais, o senhor não queria falar comigo? E sorriu. Entrei em seu carro e congelei, não disse sequer uma palavra, a não ser “é aqui onde moro”, dois minutos depois. Ela parou e pediu meu telefone porque estava com pressa, pois, seu irmão já havia ligado querendo saber onde estava. Disse que no dia seguinte ligaria pra mim, pra podermos marcar um bate-papo.
E não é que no dia seguinte, pouco antes das sete da manhã, ela ligou? Conversamos ao telefone por um tempo e marcamos sair à noite. Eu já estava pensando que fosse uma garota de programa ou qualquer dessas tantas mulheres fúteis que havia por aí, de tão fácil que estava a coisa. Ledo engano.
Yumi é uma mulher que, tenho certeza, habita os sonhos e fetiches de todo homem que os olhos nela põem. Nos seus poucos um metro e cinquenta e seus escassos quarenta e cinco quilos, cintura “finézima”, seios mínimos e um bumbum arrebitado além dos padrões de uma nissei, ela é simplesmente um encanto. Dona de uma fala suave e vocabulário perfeitinho, ela mais parece uma colegial de fantasias eróticas, com saia rodada xadrez, camisa branca e gravatinha. Um estrondo de perfeição.
À noite, por volta das 21:00h, ela ligou e disse estar em frente de minha casa me esperando. Eu já estava desfalecendo de ansiedade e duvidando que ela ligasse, mas, não é que ela não só ligou como também estava à minha espera, na minha porta? Saímos, bebemos, falamos, rimos, contamos nossas vidas um para o outro, até a hora de irmos embora. Paguei a conta, deixamos o barzinho, entramos em seu carro e, já meio zonza pelos vários drinks, pediu que eu dirigisse, então trocamos de posição sem descer do carro. Ela passou pro passageiro roçando seu corpo estonteante em mim, parou por uns instante em meu colo e disse: - Passa pro outro lado e vamos logo, vou deixá-lo em casa. Assim que tomei a direção ela encostou sua cabeça em meu ombro, colocou a mão direita em meu peito, por dentro da camisa e foi por todo o percurso me acariciando e dizendo palavras desconexas, chegando ao absurdo de se dizer encantada por mim. Dei boas gargalhadas, ah, se dei.
Quando chegamos à minha casa ela perguntou: - Posso dormir aqui hoje? Não tenho a mínima condição de dirigir. Respondi que sim, mas desconfiado que não dormiríamos e, realmente, não dormimos. Passamos a noite fazendo amor, numa loucura absurda e eu preocupado com o vizinho geminado reclamar dos ruídos, gemidos, gritinhos e urros. Meus vizinhos sempre diziam nem notar minha presença, exceto quando eu estava com o som ligado. Nos fundos da casa onde eu morava existe um estúdio de gravação com um belo jardim e uma piscina enorme, os quais, por vezes eu fazia manutenção e, num dado momento, quando eu preparava uma bebida, pro meu espanto e desespero, onde estava Yumi? Na piscina, nua. Medo que ela se afogasse e medo que o vizinho percebesse sua presença e, no dia seguinte, fosse reclamar com meus amigos do estúdio, do meu comportamento inoportuno. Era um acordo que tínhamos: Não levar mulheres em minha residência e não utilizar a piscina.
Na manhã seguinte ela se vestiu, me deu um longo beijo e disse agradecendo que nossa relação fôra apenas sexo, que voltaria, mas com a condição de eu nunca me apaixonar por ela. E não me apaixonei. Ela sim se apaixonou por mim, acho. Durante um ano nos relacionamos, transamos de tudo quanto é jeito. No mesmo dia ela me ligou à tarde dizendo estar com saudades e que queria me ter do jeito dela. Durante dias foi assim, trocamos telefonemas carinhosos. Hora ela me ligava, hora eu ligava e sempre dizíamos sentir saudades. Até que ela resolveu marcar um segundo encontro.
E nesse segundo encontro ela revelou sua tara. Uma mulher dominadora, que me queria apenas como escravo de seus desejos. Adeus menina doce. Sua metamorfose vampiresca muitas vezes chegou a me assustar. Perversa e pervertida, meiga e contundente na arte de amar. E jurava não conhecer na prática nada sobre sado-masoquismo, que tudo o que fazia era fruto de sua imaginação e de comentários que ouvia em rodas de amigas. Sei lá! Algumas vezes trocamos os papéis e ela também adorava ser dominada, apesar de não ser sua preferência, mas eu não tinha coragem de machucá-la, tal sua delicadeza e fragilidade quando subjugada.
Menina rica, estudante de veterinária, oriental e vinte e tantos anos mais jovem que eu. Mimada pelo pai e super protegida pelo irmão ciumento, retrógrado e preconceituoso. Foi ele o maior responsável pelo nosso rompimento. Descobriu onde eu morava, me perseguiu, me agrediu, chegou ao absurdo de ameaçar-me no trabalho, dentro da casa de um cliente, o que causou o rompimento do contrato por quebra de confiança e, consequentemente, a perda de futuros negócios com aquela pessoa. Também havia o problema da minha paixão doentia por minha ex, mesmo sabendo que aquela relação de anos desgastada e nauseante não duraria muito, eu insistia por sofrer de desamor. O bom nessa história é que minha ex só permitia ficar comigo aos sábados à tarde e aos domingos, portanto, passei sextas-feiras maravilhosas ao lado de Yumi e manhãs de sábado realmente extasiantes.
Na última vez em que estivemos juntos fui obrigado a dizer-lhe que nossa relação era só sexo, coisa que ela mesma propusera quando nos conhecemos. Naquela noite, em minha casa, no bairro Sacomã, em São Paulo, ela chegou por volta das 22:30h. Mini-saia preta e uma camisa de seda, também preta, com pequenas estampas vermelhas e douradas, coisa de gueixa. Ela estava especialmente linda, lápis preto delineando os olhos, rimel realçando seus enormes cílios, brincos de argolas enormes  e um coque prendendo seus lindos cabelos negros, fixados por um palito sei lá que nome, batom carmim que dava um toque todo sensual àquela pequena e devastadora boca e sem uma gota de perfume, cheirosa ao natural como sempre apreciei. Cheiro e gosto de mulher, apenas.
Como sempre, de pronto ela tomou o comando das ações. Com dois pares de algemas que retirara da bolsa prendeu-me as mãos à cama. Meus pés, os amarrou aos pés da cama, com o nó que eu mesmo ensinei nos dias em que ela me ajudou num trabalho quando tive que içar vários materiais ao pavimento superior da edificação em obras. Ela era louca de pedra. Faltava à faculdade pra trabalhar comigo, no serviço sujo e pesado que é a construção civil. Adorava operar uma serra mármore e uma furadeira. Eu não entendia como era possível uma menina delicada daquele jeito ter aquela paixão por serviços grosseiros e por mim. Rica, jovem, universitária, linda, uma mulher que esbanjava feminilidade, sujando as mãos e destruindo as unhas só pra estar perto de mim.
Mas voltando ao assunto, naquela noite ela judiou um bocado de mim. Após me prender, rasgar minha camisa e retirar parcialmente minhas calças, ela se despiu. Por baixo daquela roupa existia um anjo vestido com um espartilho negro e detalhes em couro, uma calcinha preta absurdamente transparente e uma cinta-liga atada a meia-fina preta. Surrou-me com um cinto de fivela que tirou da saia, me rasgou o peito e as costas com suas garras afiadas, me afogou com vinho, me beijou com sofreguidão impar, me mordeu as bochechas, o queixo, o peito, a bunda e mais onde a imaginação pode nos levar. Mordidas incisivas que deixaram marcas de seus dentes em meu corpo por vários dias. Desferiu um murro no meu nariz que sangrou um bocado. E chorou. Tudo isso sem dizer uma palavra, um só pio, regado à trilha sonora de Motörhead, puta som do caralho (não há um só louco que não seja apaixonado por som tão vibrante e podre). Ela me usou do jeito que quis. Fez de mim seu escravo como nunca dantes. Fez amor de forma furiosa, parecendo querer se vingar do que estaria por vir.
Então abri o jogo. Contei de minha paixão por minha ex-mulher e as sandices que seu irmão estava cometendo. Disse que me mudaria pra uma cidade do interior, pra resolver problemas familiares e passei-lhe meu futuro endereço. Chorando ela recusou, rasgou o papel onde eu anotara e saiu batendo a porta pra nunca mais nos vermos.
Por tempos tentei falar-lhe, pedir perdão por não tê-la amado como deveria e restaurar nossa amizade, mas quem disse que ela falava comigo? Às vezes ligava pra mim, na madrugada sempre, pois sabe que durmo pouco, nunca antes das duas da madrugada. Atendia e ela nada dizia, permanecia muda e, com isso, eu não entendia o porquê desse indigesto flagelo. Depois de dois anos e meio, o único contato que tivemos foram esses malditos telefonemas esporádicos às madrugadas insones, minhas e suas, onde ela não dizia palavra e após ouvir minhas súplicas, pra que ao menos dissesse um alô, desligava abruptamente.
Com um novo e grande amor em minha vida, há um ano vivo feliz por demais da conta e nem me lembrava que ela pousou um dia em meu colo, em meus braços, em meus sonhos, no meu coração, mas essa noite ela voltou a ligar, da mesma forma, muda. E eu? Tomei no rabo, é claro. Passei a noite sem dormir. Com saudades chagásicas de minha namorada, que amo mais que tudo na vida e uma pena homérica de Yumi, a minha sádica concubina do passado que hoje se transformou em mancípia masoquista.

NÊNIA DEMONÍACA


Esse amor domina a fria alvorada
Meu vento, meu tempo, meu pensamento
Cada momento, cada suspiro
Por todo meu fado deliro
Triste em meu canto ouço a nossa canção, meu amor
Ardor gutural, rouco, às margens da insalubre decência
Clamor despego do fundo da alma
Sofrido, entre nuvens e cinzas, outro cigarro acendo
Destruo a vida na mais silente misantropia
Incito-me à célere morte vazia
Não posso mais viver sem ti
Louco, aguardo a Via Descendens
Dos anjos a me arrebatar
Entre um gole e outro do amargo Bourboun
Quero partir dessa melancólica estância
Fugir da brutal desventura em que me meti
Esse infindo outono leva-me as folhas já secas
Sem cor, arrastadas ao gris horizonte
Ao pior dos lamentos, meu jocoso porvir
O inverno nefasto, sem teu calor
Por fim só venturo um destino cruel
De tua distância, o martírio
De minha saudade, o inferno

quinta-feira, 14 de julho de 2011

VASSALO


Desejo doudo esse que em minhas veias agita
É grita que escorre como rio selvagem por todo meu ser
O acender da chama que em minh’alma queima
Queima e teima em turvar-me a mente
Contente mesmo assim, meu coração explode de emoção
Eclode a paixão em visíveis sinais de louvor a teu corpo
E o escopo de minha razão é não parar jamais
Siga assim, ataca-me mais, no auge do teu despudor
Com todo o teu amor, quero gozar contigo esta noite
Teu açoite quero rasgando minha pele, com toda tua força
Moça danada, mulher perversa, dona sem compaixão
Explore esse tesão que sinto pois quando amo não minto
Quero sentir teu fogo esta noite
Cativo em tuas mãos, prisioneiro em teus olhos
E outra e outra mais gozar contigo, megera
Quimera encantada que meus sonhos visita constante
Amante teu quero ser até o fim de meus dias
Brindar as tuas folias, em teu seio me embriagar
E me perder nas tuas estripulias
Amo demais ser teu vassalo
Humilde e febril arraigado dentro de ti, enlouquecido
Até que suporte meu ávido falo entumecido

CONFLITOS


Congelado na aresta de meu cenóbio cárcere
Assim desgarrado, feito alma púbere
Entre ser um guri ou homem de apreço
Da minha meninez sobram anelos poucos
Sonhos rotos que só no mundo dos loucos
Nostálgica quimera da qual padeço

Do futuro nulo, resta sobreviver o delírio
Minha mente planeja um triste martírio
Ser onipotente, quiçá um déspota pungente
Viver da conquista ilusória de trinta moedas
E morrer só, no lamento de minhas veredas
Por anegar de infortúnios essa massa inocente

Meu cerne, irrequieto, me cobra a paixão
Deixar no vazio um pouco de minha razão
Que vale a fortuna senão de ter um amigo?
O amor é assim – Se resume à amizade
Fraternidade, benevolência, liberdade
Sem isso, a solidão é o fim que a mim maldigo

Pudera eu tornar à sorte outrora perdida
E ter o saber dos percalços da vida
Não estaria hoje aqui neste medo consorte
Rumando ao fim na escura esperança
Volver um dia àquela pudica infância
E abraçar sorrindo a certeza da morte

quarta-feira, 13 de julho de 2011

SENTINDO-TE


Assim me vejo
Quando te vejo perco meu rumo
Sem prumo bambeio, minha razão desnorteia
Bombeia meu coração o sangue abrasante
Saturando cada veia, ofegante, meu peito infla
E fico abobado por tua silhueta luzente
Descrente de tão perfeita imagem
Seria miragem? Vertigem de alguém tresloucado? 
Ou anjo dos céus enviado?

Assim te toco
Enredando meus dedos em teus lindos caracóis
Em teus lençóis perdido, no paraíso esquecido
Carinhando tua pele morena, de deusa africana
De Helena troiana, cerne deste louco amante
Passante, por todo teu corpo, minhas mãos
E em teus braços envolto, gozando de teu calor
No ardor da paixão, côncavo em teus seios
Convexo em devaneios e profuso em teu feitiço difuso

Assim ausculto
Em meus ouvidos, pertinho, teus murmúrios
Teus sussurros e juras
Me leva a loucura tua suave voz de menina
Minha hílare sina perder-me em teus lábios
Tão doces, molhados, tão quentes
Ardentes, recitando poemas pra mim
E eu pra ti os meus, de amor eterno
Essa tua voz que entoa arpejos de liras arcanas
Conduz-me ao nirvana, sutil como o toque de Midas

Assim percebo
O teu cheiro invadir-me as narinas
Pululam em mim endorfinas
Sagrados aromas emanam de ti
Teus perfumes esbanjam fragrantes delícias
Flagrantes malícias povoam-me a mente
Flutua minh’alma carente em pecado e desejo
Por querer teu hálito quente a me embriagar
E querer aspirar o prazer de cada poro teu

Assim me perco
Minha boca sedenta, pedindo teus beijos
Afogado em tua doce saliva, em teus fluidos imerso
Em teus fascinantes fluidos lambuzado, disperso
Diluído em pensares mundanos
Beijando teu colo, tua boca, teu ventre
Sugando o licor da divina providência
Sem um quê de decência ou mesmo pudor
Entregue à luxúria num infindo laço de amor


E assim me acabo
E acabo contigo também
Sem mesmo um porém, com toda volúpia
Dentro de ti, eterno em paixão
Como vulcão a bramir meus pecados
Ou sismos sagrados do tão esperado aeon
De um divino frisson dobram sinos dourados
Em êxtase, prosternado por tua magia
És meu pão, meu vinho, minha razão de viver
Meu luminescente amanhecer
Pra todo o sempre