Pedro era um menino pobre que passava muita, mas muita fome.
Seus pais não se preocupavam com o que fazia ou por onde andava.
Todos os dias, Pedro se embrenhava pela floresta a procura de alimento.
E todos os dias Pedro gritava com todas as suas forças, alertando sobre a presença de um lobo feroz, fera temida por todos.
-É o lobo!
-É o lobo!
-É o lobo!
E todos corriam ao seu socorro.
Armados até os dentes.
Mas nunca conseguiam sequer ver o tal lobo.
E no outro dia, a mesma coisa:
-É o lobo!
-É o lobo!
-É o lobo!
E de novo, aquela correria.
E nada.
Aquilo já estava se tornando cansativo.
Alguns se irritavam com o pobre menino, outros zombavam.
Pedro insistia.
Todos os dias.
E o número de pessoas foi diminuindo e diminuindo.
Até que um dia Pedro gritou, gritou e gritou.
Por diversas vezes.
Até perder a voz.
E ninguém apareceu pra ver o que acontecia.
Então Pedro teve a certeza que ninguém atrapalharia seus planos.
Armado com a espingarda do pai, Pedro matou o lobo.
Um tiro certeiro entre os olhos.
E pedro saciou sua fome.
Assou as partes mais tenras e devorou-as.
Não dividiu com ninguém.
As sobras, o couro e as tripas, Pedro ajeitou numa sacola que previamente escondera entre os arbustos e rumou para o vilarejo.
Chegando lá, vendeu a preço de ouro seus troféus.
E conquistou fama, poder e um bando de puxa-sacos.
Finalmente perdeu a pureza.
Finalmente se tornou um humano.
Daqueles.
Como articulou todo o seu plano?
Ouvindo histórias.
Imitando.
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