domingo, 7 de novembro de 2010

MELANCÓLICO BONSAI



 
É, meu amigo, minha amiga.
Vejo sua lamentável situação.
Doente, né?
Síndrome do pânico, depressão, fobias.
Doente.
Sei!
A solidão o consome.
Você chora.
Precisa de ajuda?
De carinho?
Então tá, vou cuidar de você.
Precisa de rega, de poda?
Que sejam arrancados os daninhos de seu entorno?
Quer que arranque os vermes de suas raízes e os parasitas de seus braços?
Quer que alguém crie patamares de sustentação para  ascender sua beleza e exuberar seu egoísmo?
Aí, sim, estará forte, bonito, sorridente.
Feliz.
Seus anseios são efêmeros e mesquinhos.
O engodo de sua existência é alimento processado e sintético.
Síndromes e depressão é o que o fortalecem.
Você é muito, muito egoísta.
Já parou pra pensar que existe alguém em situação muito pior que a sua?
Necessitando da sua ajuda?
E você aí reclamando e gemendo.
A perfeição da sua genética não é motivo mais que suficiente pra sua felicidade?
E sua fé, é alicerçada apenas em dogmas, gurus, profetas e outras fúteis crendices?
Você não se diz imagem e semelhança?
Não diz que é detentor de livre arbítrio?
Não é você quem quer evoluir sem pecados pra poder, um dia talvez, sentar-se ao lado da porra do seu criador?
Então faça como ele: Crie o seu universo e cuide dele.
Faça sozinho.
Não espere ajuda.
Pelo contrário. Faça melhor que seu criador.
Cuide de seus filhos com amor e dedicação.
Não os coloque em seu mundo para serem escravizados, currados, esquecidos e morrerem de fome ainda crianças.
Pare de reclamar e se fazer de vítima.
Perceba como é linda a sua vida.
Deixe de preguiça e de tolos medos.
Viva cada dia intensamente.
Não como se fosse o último, mas como se fosse o único.
Lembre-se que o mundo assustador que está lá fora você ajudou a criar.
Você também é responsável pelos horrores humanos, afinal de contas você também é um ser desta lastimável espécie.
Com o seu joguinho de fragilidade você faz com que pessoas deixem de realizar obras importantes pra lhe dar atenção.
Tenha na sua cabeça que o melancólico bonsai no qual você se transformou será sim regado, podado, higienizado, aramado e colocado no canto de uma estante para ser contemplado como um belo ser vivo, mas dependente e inútil.
Que não produz nada a não ser uma mísera sombra.
Até morrer esquecido ou ser substituído por outro que, mesmo pequeno como você, consegue dar alguns bons frutos.

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