Meus versos perdem a cor
Desbotados de saudade, essa vil megera
A pena, já falha de tinta seca
Errante, mesmo que as linhas insistam retidão
Trêmulas por minhas mãos chorosas
O fino papel, agora amarelecido pelo tempo
Cansado das rugas forjadas por áridas lágrimas
E minha verve, desconexa, detém-me a inspiração
Confundo amor com dor, paixão com solidão
Prefiro a morte à vida
O silêncio à bradar meus sonhos nos teus braços
Ébrio neste vinho vermutado, salobro
Da garrafa verde, esquecida no canto amargo
Donde, um dia, teu sorriso adoçou minh'alma
Da taça, em teias exilada e rubras evidências
Em minhas lembranças não vejo a primavera
Nem a candura da lua ou das estrelas o silêncio
O canto do trinca-ferro é cavo, sem graça
O pio do mocho, chocho, já não me assusta mais
Tudo está apagado, recluso na escuridão
Mas antes que a Terra translade seu ciclo hei de novamente sorrir
Rir a toa, eu sei
E o arco-íris tornarei rabiscar
Sei que em breve em teus lábios estarei
E a tristeza, outra maldita, afogarei
Feliz, à saudade da saudade brindarei
Ah, saudade!
Você ainda me paga
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